A poucos dias de completar dois meses do feminicídio de Gleici Keli Geraldo de Souza, 42 anos, morta a facadas pelo marido, o engenheiro-agrônomo Daniel Bennemann Frasson, 36, em Lucas do Rio Verde (354 km de Cuiabá), a filha mais velha da vítima, Caroline Fernandes, voltou a se manifestar nas redes sociais. Em um desabafo, a jovem rejeitou a versão de que o crime teria sido motivado por um “surto psicótico” e detalhou os traumas enfrentados pela família desde a tragédia.
Caroline afirmou que, ao longo dos últimos dois meses, tem convivido com versões falsas sobre o caso e decidiu se posicionar. Segundo ela, a mãe estava em plena fase de expansão profissional, cuidava da saúde e se preparava para uma viagem a Paris, em setembro, onde conheceria uma fábrica de cosméticos sustentáveis. Gleici também tinha participação confirmada em um congresso em São Paulo.
“Talvez tenham sido essas conquistas que feriram o ego do assassino dela. Sei que existem depressão, ansiedade e surtos psicóticos. Mas existe um abismo entre andar nu pela rua durante um surto e esfaquear alguém repetidas vezes. Se problema psicológico fosse desculpa para assassinato, os presídios estariam vazios”, escreveu a filha.
A jovem ressaltou que a quantidade de golpes desferidos contra a mãe não condiz com um ato impulsivo, mas com “raiva impiedosa”. Ela também lembrou das oito facadas sofridas pela irmã de apenas 7 anos, que dormia ao lado da mãe. “Não foi uma briga. Foi dormindo, sem chance de defesa. Cabeça, pescoço, tórax e abdômen. Minha mãe tentou resistir, sei que lutou até o fim para proteger minha irmã. Ela era uma leoa”, desabafou.
Caroline contou ainda que foi a primeira a entrar na casa após o crime e descreveu o momento em que precisou socorrer a irmã gravemente ferida. A menina foi levada ao hospital em estado crítico, passou dias na UTI em Cuiabá, mas sobreviveu. “Se querem falar de problema psicológico, que falem do impacto disso em nós. Como foi para minha avó receber a notícia, para minha tia que amava minha mãe, ou para mim, que vi a cena e tive que lutar para salvar minha irmã”, completou.
A filha da vítima também destacou o vazio deixado pela ausência da mãe em datas como o Dia das Mães e o Dia dos Pais, e relatou a dificuldade da irmã em voltar a confiar nas pessoas e dormir em paz. “Desejo a ele e a todos os assassinos que acordem todos os dias lembrando do que fizeram. O surto passa, mas a lembrança fica. Vida longa para que a justiça dos homens e de Deus se cumpram”, afirmou.
Caroline encerrou agradecendo o apoio recebido e pedindo distância de quem tenta justificar os atos do acusado. “Não está tudo bem, mas vai ficar”, escreveu.
O caso
O feminicídio ocorreu em 21 de junho, quando Daniel atacou Gleici enquanto ela dormia. A filha do casal, de 7 anos, também foi golpeada. O acusado tentou tirar a própria vida, mas sobreviveu após cirurgia e segue preso. Ele deve responder pelo feminicídio da esposa e pela tentativa de homicídio da criança.

