Mensagens trocadas entre Jacyra Grampola Gonçalves da Silva, de 24 anos, e amigas revelam que a jovem já temia o comportamento do ex-companheiro, José Alves dos Santos, 31, preso acusado de matá-la a tiros em um pesqueiro de Sorriso. Nas conversas, divulgadas após o crime, ela relatava que o ex era abusivo, fazia ameaças constantes e a pressionava para retirar a medida protetiva que havia conseguido contra ele.

Segundo familiares, Jacyra não contou à família toda a gravidade da situação. “Hoje recebemos prints em que ela dizia que ele a perseguia, que ameaçava, que queria que ela tirasse a medida protetiva. Ela não fez isso, e isso aumentou a raiva dele. A gente não sabia que ela estava passando por essa situação”, relatou Rosilene Gomes, prima da vítima.

Amigas confirmaram que o acusado seguia Jacyra em locais de trabalho e lazer, chegando de surpresa em ambientes onde ela estava. A pressão a levou a registrar boletim de ocorrência e pedir proteção judicial, mas ela também dizia que não queria abandonar a vida construída em Sorriso para fugir do ex.

Horas após o crime, José foi localizado a pé nas proximidades do distrito de Piratininga, a 120 km de Sorriso, enquanto esperava o que acreditava ser o “prazo” de 24 horas para se entregar. De acordo com a delegada Layssa Crisóstomo, ele estava tranquilo e chegou a debochar da situação.

“No momento da prisão, ele ria, dizia que fez mesmo e que já tinha a intenção de se entregar. Na cabeça dele, acreditava que, passando as 24 horas, nada mais aconteceria. Não demonstrou arrependimento em nenhum momento”, afirmou a delegada.

O suspeito indicou o local onde havia escondido o revólver calibre .38 usado no crime, encontrado em uma área de mata fechada. Ele alegou ter comprado a arma em Cuiabá há cerca de três meses.

O feminicídio ocorreu no domingo (17). Jacyra estava em um pesqueiro com amigas quando o ex chegou ao local. Segundo testemunhas, José teria dito que levava um presente e se aproximou da jovem com uma caixa nas mãos. Dentro, porém, estava a arma usada para disparar pelo menos seis vezes contra ela. Dois tiros atingiram a cabeça da vítima.

O juiz plantonista Arthur Moreira Pedreira de Albuquerque, da 2ª Vara Criminal de Sorriso, manteve a prisão preventiva do acusado na terça-feira (19). Em sua decisão, destacou que José já possuía medidas protetivas contra si e agiu com crueldade e desprezo pela vida da ex-companheira.

O processo corre em segredo de justiça. Segundo a Polícia Civil, o crime foi motivado pelo inconformismo do acusado com o fim do relacionamento, ocorrido em maio.