O município que é referência nacional em agricultura irrigada com quase 30 mil hectares de áreas produtivas, pode ser diretamente afetado pela Medida
O município de Sorriso, referência nacional em agricultura irrigada com quase 30 mil hectares de áreas produtivas e cerca de 220 pivôs em operação, pode ser diretamente afetado pela Medida Provisória 1.300/2025, que altera as regras de concessão de descontos na tarifa de energia elétrica para irrigação. O alerta foi feito pelo presidente da Associação dos Produtores de Feijão, Pulses, Colheitas Especiais e Irrigantes de Mato Grosso (Aprofir), Hugo Garcia, durante coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (7), em Cuiabá.
Segundo Garcia, a medida transfere às concessionárias de energia a definição dos horários de fornecimento com tarifa reduzida, o que pode inviabilizar o uso noturno da irrigação — prática considerada essencial para a produtividade agrícola em regiões de clima quente, como o norte de Mato Grosso.
“A planta produz melhor à noite, quando está aberta, com os estômatos funcionando, pronta para absorver água e nutrientes. Durante o dia, sob calor intenso, a irrigação exige muito mais água e energia, o que aumenta custos, compromete o rendimento e ainda traz impacto ambiental”, explicou o presidente.
Garcia alertou que, se a nova regra for aplicada sem considerar critérios técnicos, haverá reflexo direto no bolso do consumidor.
“Quanto mais cara for a energia, mais caro fica o feijão e, consequentemente, mais cara fica a cesta básica. Mato Grosso é o maior produtor de feijão irrigado do país. Se a produção aqui for inviabilizada, o preço dos alimentos sobe em todo o Brasil”, afirmou.
Em Sorriso, boa parte da produção de feijão e de outras culturas de segunda safra depende da irrigação noturna para manter a produtividade e o equilíbrio dos custos. O dirigente defende que a MP foi elaborada sem diálogo com o setor e desconsidera as particularidades climáticas do estado.
“Se as concessionárias decidirem conceder o desconto apenas no horário de maior geração solar, entre 10h e 16h, o produtor vai ter que irrigar no período mais quente, quando o consumo de energia e de água é maior. Isso é ineficiente para a planta e para o meio ambiente. A medida não tem critério agronômico e foi feita sem ouvir quem produz”, criticou.
O diretor da Aprofir, Afrânio Migliari, lembrou que o sistema de irrigação também sustenta cadeias produtivas de frutas, verduras, leite e até aquicultura.
“Até a criação de camarões será afetada, porque o sistema de aeração que oxigena os tanques precisa funcionar à noite. Isso mostra que a MP impacta muito além do campo”, ressaltou.
A Aprofir está articulando com parlamentares e ministérios para tentar ajustar a medida antes de sua regulamentação. A proposta da entidade é que os horários com tarifa reduzida sejam definidos de forma regionalizada, considerando as condições climáticas e produtivas de cada estado.
“Estamos em contato direto com o Ministério de Minas e Energia, o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento Regional, pedindo que o setor seja ouvido. Queremos uma solução técnica e equilibrada”, afirmou Garcia.
O presidente destacou ainda que estudos realizados pela Aprofir, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), comprovam que a irrigação noturna é mais eficiente do ponto de vista hídrico e energético.
“Não somos contra mudanças, mas as decisões precisam ser baseadas em critérios técnicos, e não apenas econômicos. A irrigação é essencial para a segurança alimentar do país e, em cidades como Sorriso, é parte fundamental da economia. A energia é um insumo que precisa ser tratado com responsabilidade”, concluiu.