A Usina Hidrelétrica (UHE) Colíder, no rio Teles Pires, voltou ao centro das atenções após relatório técnico do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) identificar falhas estruturais na barragem e impactos ambientais significativos. A usina, em operação desde 2019 com 300 MW de potência, integra o Complexo Teles Pires.
Em vistoria realizada no fim de agosto, especialistas constataram problemas críticos no sistema de drenagem. Dos 70 drenos avaliados, 18 apresentaram carreamento de materiais, cinco romperam e três foram tamponados. A situação indica progressão de erosão interna (piping), um dos principais riscos de rompimento em barragens de terra.
Como medida emergencial, a Eletrobras reduziu o nível do reservatório, o que trouxe novos impactos ambientais.
A operação de rebaixamento causou a morte de pelo menos 1,5 mil peixes, totalizando 212 kg de biomassa. Outros 22 mil foram resgatados com vida. A análise da água mostrou baixos níveis de oxigênio, agravados pela vegetação não retirada antes do enchimento do lago.
O histórico de impactos ambientais da usina preocupa: desde 2014, já foram registradas mais de 89 toneladas de pescado perdido em diferentes episódios, comprometendo a biodiversidade e a segurança alimentar da população.
Moradores e empreendimentos turísticos relataram perdas devido ao aumento da vazão e à redução da lâmina d’água. O relatório também apontou fragilidade no sistema de alerta da Zona de Autossalvamento (ZAS), que cobre 181 edificações.
Diante do cenário, o MPMT recomenda estudo para avaliar alternativas que podem incluir até a desativação ou descaracterização da usina, como prevê a Política Nacional de Segurança de Barragens.
O trabalho pericial foi conduzido por especialistas em ecologia, geociências e engenharia civil, sob coordenação do Centro de Apoio Técnico à Execução Ambiental (CAEx). Segundo o procurador de Justiça Gerson Barbosa, o relatório oferece subsídios para “decisões estratégicas e medidas urgentes de prevenção”.
O processo segue monitorado pelas Promotorias de Justiça de Colíder, Nova Canaã do Norte, Itaúba e Cláudia, que investigam os riscos e cobram garantias para as comunidades impactadas.